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Eu só vi meu pai chorar duas vezes na vida toda.

  • Foto do escritor: StorLabs Omni Marketing
    StorLabs Omni Marketing
  • 12 de out.
  • 3 min de leitura

Morei mais tempo com minha mãe e nos fins de semana que passava com meu pai tive o privilégio de ver ele interagindo com todo mundo. O Aparecido Jurado Fernandes, que todo mundo chamava de Cidão, era o típico vendedor de porta. Andava de social com uma pasta de mostruário nas mãos, tirava pedidos, dava descontos, batia metas.


Chegava gritando, ria com todos, nunca vi meu pai triste. As vendas mudaram, o vendedor de porta aos poucos virou vendedor de telefone. Meu pai não usava mais pasta, usava lista telefônica. As coisas mudaram de novo, meu pai não era mais vendedor.


Ele ficou triste. Aquele cara grande, forte, de olhos claros e cabelo grisalho, sentava e olhava pro nada. Falava que estava tudo bem, ia pra rua de roupa bonita e voltava mais triste. O pai estava muito quieto. A mãe dizia que às vezes era assim mesmo, mas como assim?


Uma semana depois o pai tinha voltado a sorrir. Ia ter jogo da seleção, o velho comprou carne, cerveja, carvão e estava tudo verde e amarelo. Toda vez que o Galvão gritava gol, todo mundo gritava junto. Tinha cheiro de carne, gosto de tubaína. O Brasil ganhou.


Pela primeira vez na vida eu vi meu pai chorando.


Eu fiquei desesperado, como assim, meu pai chorando, na frente de todo mundo? Alguém bateu nele, mas não, ele chorou de felicidade. Não sabia que a gente fazia isso, a gente, homem, não chora. O pai chorou gritando.


Felicidade deve doer. No outro dia ele comprou mais carne e mais cerveja. Vai ter jogo? Não, o pai ia pra rua com carne e cerveja e voltava feliz. O Brasil deve ter jogado de novo, né?


O pai está vendendo espeto na rua. Foram os meses mais felizes. Tinha dinheiro pra todo lado, bolos de notas de todo tamanho, carne, cerveja, festa, sorriso. 


Um tempo depois a fonte secou. Não tinha mais bolos de dinheiro, a carne parou na geladeira, o cheiro era diferente, ruim. O pai não estava mais rindo. Um dia vi o pai jogando bastante carne fora. Será que o pai não gosta mais de vender espetinho? O pai não está vendendo bem esses dias.


Eu vi o pai chorar pela segunda vez.


O Brasil está jogando? Não, o pai estava chorando de tristeza dessa vez. Tristeza machuca. Jogar fora o que você faz com tanto carinho machuca. Não saber o que vai fazer se tudo der errado machuca, pra caramba.


O pai deu um jeito depois, o Cidão era um cara que dava um jeito. O lema da minha empresa é "Nós Fazemos" e se você me perguntar se eu consigo isso ou aquilo eu respondo na hora que "Eu consigo qualquer coisa". Aprendi com o melhor. Meu pai faleceu recente, mas vai viver para sempre em tudo que eu fizer.


Quando eu vi ele chorar pela primeira vez aprendi que dava pra ser mais feliz do que eu imaginava, ao ponto de doer e sair pelos olhos, o que me ensinou a não me contentar com pouco sorrisinho, alegria de leve. Quando vi meu pai chorar pela segunda vez aprendi que uma coisa que deu certo demais pode dar errado, então não se deve apoiar tudo nisso.


Eu vivo 100% de internet fazem mais de 5 anos, contrariando as estatísticas do empreendedorismo Brasileiro. Suor, aspirinas, lágrimas, energéticos e meu Deus, eu devo ter aumentado o faturamento das empresas de café pelo menos uns 5% por mês, mas eu sempre lembro do meu pai.


Quando tudo dá certo eu lembro da primeira vez que vi meu velho chorar. Quando tudo dá errado eu lembro da segunda. Nos dois casos eu lembro do que rolou depois e penso em como tudo pode mudar rápido, como um bom planejamento estratégico, inteligência emocional e coragem de fazer acontecer fazem a diferença nos dois casos.


Achou que eu ia te vender alguma coisa, né? Fala sério, eu estou falando do meu pai. Era só para te falar da importância de entender essas coisas na minha vida profissional e talvez te fazer lembrar do seu velho. Com certeza você deve ter aprendido alguma coisa com ele. Bom, te falei o que aprendi com o meu, me conta o que aprendeu com o seu.


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